Viajar umas das coisas mais gostosas da vida, conhecer gente nova, novas culturas, comportamentos e a gastronomia, uau essa é a minha preferência. Desde pequena sonhava com lugares que não conhecia, paisagens, lagos, estradas sem fim e assim por diante.
Meu pai sempre nos levou para viajar, nem que fosse uma vez por ano, mas a tão esperada viagem sempre estava no orçamento, algumas vezes íamos para os mesmos lugares, mas todas as vezes era diferente.
Reencontrar meus primos, ver as temidas galinhas na roça, Jesus elas são terríveis até hoje!
Buscar alface, leite, correr das vacas, chupar manga no pé e me sujar no barro até só aparecer os olhos. Nenhum tênis de marca, nenhum parque temático, nenhuma festa infantil(por mais que tivesse mini hot dog) se comparava a tranquilidade e a simplicidade do interior.
Me lembro de admirar meu pai dirigindo horas pelas estradas e só sentir o cheiro do eucalipto, e imaginava que um dia eu estaria lá dominando aquela super máquina, sentindo o vento no rosto.
De todas as coisas maravilhosas, que por vezes durava uma semana, um mês, nada se comparava ao retorno pra minha casa, cresci e essa sensação permaneceu comigo. O cheiro das minhas roupas de cama, dos ambientes da minha casa, rever meu cachorro, ir para escola, ligar a minha televisão.
Conversar horas a fio, sobre todos os detalhes da viagem, muitas vezes o mais emocionante eram os preparativos, os lanches, as malas, eu toda exibida contando para todos os meus colegas, que naquele final de semana nem adiantava me procurar, eu estaria viajando.
Puxa como achava isso chique rs, sair das divisas da minha cidade, ver aquela placa bem vindo a cidade tal.
Mas dentro de mim, existia aquele dispositivo que dizia é hora de voltar, engraçado né?
Já cheguei a chorar depois de adulto, com saudade de casa rs.
A rotina, os hábitos fazem parte da nossa vida e elas ao contrário do que muitos acham, nos fazem bem, são esses hábitos que nos fazem ser, quem nós somos.
Será que alguém gostaria de todo dia chegar na sua empresa e a mesa estar sempre num lugar diferente?
Ir para o ponto de ônibus e sempre ter um aviso o itinerário mudou? Comer naquele restaurante e cada dia o arroz ser de uma cor? Eu odiaria, as novidades, variações, aventuras seja lá qual for o nome, são boas até enquanto são novidades, mas logo o nosso corpo, alma, mente começa a chamar pelo vínculo mais forte que nos une com o velho, com o de todos os dias, o conhecido, o familiar.
Parece loucura não é? Mas é a verdade, quantas pessoas conheci que sonhavam em trabalhar numa agência de publicidade e quando se depararam com aquela loucura, quase se jogaram pela janela.
Adoro aquele tênis velhinho que já se ajustou ao meus pés, aquele lado da cama que durmo bem gostoso.
Aquele filminho que passa sempre a mesma hora.
O novo é muito gostoso, mas o retorno para a simplicidade é melhor ainda, o retorno para aquela época que eu não tinha muito dinheiro, andava horas a fio, mas caminhava cantando, quando dividia com a minha irmã o mesmo pão de queijo, mas nos sentíamos mais irmãs ainda.
Colocar o colchão na laje, sentir o sol queimando meu rosto, sem saber o que fazer, mas com a certeza de que no outro dia esse mesmo sol, me traria esperanças.
As coisas mudaram, é eu cresci, mas meu coração ainda pede as mesmas coisas, com uma outra roupagem, mas a essência é a mesma, a musica evoluiu, mas eu adoro aquela melodia que me lembra meu avô, os caiçaras.
Meu coração geme, porque vou sempre querer a minha casa, os meus amigos, a minha família, o meu chão, o meu idioma, posso estar quilômetros de distância, mas sempre quero voltar.
As vezes na vida é necessário sentir outro vento no rosto, outra onda nos pés, pra só assim entender que a chuva da metrópole não é tão ruim assim.
O mundo gira, as pessoas que amamos morrem, outras nunca mais vão voltar, os amigos se vão muito rápido, as conversas acabam na melhor parte, a musica toca eu não consigo saber o nome...
Eu vou sempre querer voltar pro meu chão, pro meu cheiro, pro meu abraço, pras minhas musicas, pra simplicidade, pro meu cachorro e pra minha vida.